Procura-se compromisso sério

Procura-se compromisso sério. Procura-se compromisso com o próprio significado de compromisso. Confusos? Eu passo a explicar. Vivemos um dia-a- dia apressado. Não sei se por vontade própria ou apenas porque não queremos parar. Parar implica reflectir, analisar e pensar. E pensar, caros leitores, pode ser demasiado trabalhoso. Mas perdoem-me os mais atentos porque já me estou a dispersar. Dizia eu que o nosso dia-a-dia é apressado. Habituamo-nos a correr de um lado para o outro. Habituamo-nos a aceitar convites, a confirmar presenças sem sequer percebermos se queremos ou podemos fazê-lo. Habituamo-nos a querer tudo e a não querer nada. Saltitamos de solução em solução sem nunca esperar que as ideias amadureçam, que as ideias consolidem sem mesmo esperar que as soluções tenham oportunidade de crescer. Apressamo-nos nas escolhas e apressamo-nos nos sim. Sim claro que vou! Sim claro que faço! Sim claro que estou!

Depois esquecemo-nos. Esquecemo-nos do compromisso e ficamos num descompromisso sentido. Desculpamo-nos. Estamos demasiado ocupados para conseguirmos chegar a todo o lado. Estamos demasiado ocupados para respeitarmos o compromisso com o outro. Não percebemos, contudo, que ao falhar o compromisso com o outro falhamos o compromisso connosco. Saltitamos de relação em relação, de terapia em terapia, de vontade em vontade. Sem nunca parar. O que é que eu vos dizia no parágrafo anterior? Sim. É verdade que parar implica pensar e pensar por nós mesmos é trabalhoso. Assumimos compromissos, olhamos sem ver, ouvimos sem prestar atenção porque é tudo rápido e nos recusamos a parar. Apenas porque parar implica pensar sobre quem somos e o que estamos a fazer.

Procura-se compromisso sério nos sim que se dão e que não se cumprem. Nos compromissos assumidos que não são cumpridos apenas porque nem nos lembramos que os assumimos. Levianos. Tornámo-nos demasiado levianos no que diz respeito à palavra. A palavra vale muito pouco nos nossos dias apenas e somente porque nem nos lembramos de a ter pronunciado. Falta-nos a atenção ao outro e falta-nos a atenção ao nós.

Apressados, vivemos demasiado apressados. Preocupados na busca constante sem nunca querermos parar. Queremos mais, queremos sempre mais sem perceber que por vezes necessitamos de tão pouco.

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